Covid-19

Vacinar ou não vacinar crianças e adolescentes contra a Covid-19?

29 de dezembro de 2021

Luciana Weidlich, Farmacêutica e Doutora em Bioquímica

No dia 16 de dezembro de 2021 a Anvisa aprovou a utilização da vacina Comirnaty (Pfizer/Biontech) para crianças de cinco a 11 anos de idade. A partir dessa decisão, seguiu-se um debate acirrado no país sobre o uso desta vacina, envolvendo cidadãos leigos, profissionais da área da saúde, políticos, autoridades judiciais e outros. Todos discutem e a dúvida fica nas mãos das famílias com crianças – e agora, vacinar ou não vacinar?

Considerando a grande quantidade de informações desencontradas e de opiniões sem fundamento técnico que estão sendo divulgadas, eu gostaria de resumir aqui algumas informações (técnicas) importantes sobre o assunto, para quem quiser formar a sua opinião a partir de conhecimento científico e neutro:

1. Cerca de quatro crianças morrem por dia por Covid-19 no Brasil (dados do Ministério da Saúde). Somamos mais de 2.600 mortes de crianças e adolescentes entre zero e 19 anos desde a confirmação do primeiro caso da doença no país em 2020 até o início de dezembro de 2021.

2. A Covid-19 foi a doença imunoprevenível (para a qual existe vacina) que mais vitimou crianças neste ano no Brasil.

3. Alguns países onde a variante Ômicron já predomina há algumas semanas relatam que as internações hospitalares aumentaram significativamente e a maioria das crianças internadas não estão vacinadas.

4. Já foram confirmados no Brasil mais de 1.400 casos de Síndrome Inflamatória Multissistêmica em crianças no país, com mediana de idade de cinco anos, com efeito letal em pelo menos 85 crianças e sequelas neurológicas, cardiovasculares e respiratórias em muitas outras.

5. A vacina Comirnaty foi testada em estudo clínico com crianças, obedecendo a todas as exigências para este tipo de testes. Os resultados de segurança e eficácia foram excelentes.

6. A vacina não é experimental e nós não somos cobaias. Além de mais de nove bilhões de doses de vacinas Covid já aplicadas em adultos, vários países estão utilizando a Comirnaty em crianças de cinco a 11 anos há várias semanas, o que nos fornece informações importantes sobre segurança e efeitos colaterais. Nos Estados Unidos, já foram aplicadas mais de cinco milhões de doses da vacina em crianças de cinco a 11 anos, com relato de reações pós-vacinais leves e casos muito, muito raros de efeitos moderados que estão sendo investigados.

7. Não existe o perigo de qualquer alteração genética (no DNA) da pessoa que recebe a vacina, seja criança ou adulto. A única função do RNAm é induzir a produção de uma proteína que é reconhecida pelo sistema imunológico. Muito rapidamente, o RNA e a proteína são eliminados do organismo. Por isso, não é previsto nenhum efeito colateral a longo prazo após a aplicação da vacina.

8. A Anvisa, o FDA (agência regulatória dos EUA), a EMA (agência regulatória europeia) e outras agências reguladoras aprovaram e recomendam o uso da vacina em crianças de cinco a 11 anos, após extensa avaliação dos dados disponíveis. Estes profissionais são os mais capacitados para emitir pareceres sobre o assunto.

Considerando todo o conhecimento sobre a doença Covid-19, sua epidemiologia e as experiências com a vacinação, a grande maioria dos profissionais da área e também as sociedades médicas recomendam a vacinação de crianças, pois os benefícios superam em muito os eventuais riscos, que se mostram cada vez menos prováveis.

No cenário epidemiológico atual da doença no mundo, a população infantil, que ainda não está vacinada, fica desprotegida e mais suscetível ao efeito de novas variantes e ao aumento do número de casos caso a circulação viral aumente.

A discussão “vacinar ou não vacinar” é uma questão técnica, pois é necessário muito conhecimento para fazer esta avaliação. Escolha o seu profissional de referência, atualizado e sem influências políticas, para te auxiliar a buscar informações idôneas.

Referências:

1. Anvisa, Parecer público de avaliação do medicamento. Link em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2021/copy_of_PPAM511anosPfizer2.pdf, acesso em 28/12/2021.
2. Posicionamento da Sociedade Brasileira de Pediatria. Link em: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/posicionamento-sbimsbisbp-sobre-a-vacinacao-de-criancas-de-5-a-11-anos-contra-a-covid-19-com-a-vacina-pfizerbiontech/, acesso em 28/12/2021.
3. Manifesto sobre Vacinação de Crianças, Sociedade Brasileira de Pediatria. Link em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/Manifesto_sobre_vacinac__a__o_Covid_em_criancas.pdf, acesso em 28/12/2021.
4. Associação Médica Brasileira, Boletim 024/2021: CEM COVID_AMB. file:///C:/Users/luwei/Downloads/v2_Boletim-024.2021-_Vacinas-contra-Covid-19-em-crianc%CC%A7as_a-posic%CC%A7a%CC%83o-do-CEM-COVID_AMB_SBPT.pdf, acesso em 28/12/2021.

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